quarta-feira, 31 de outubro de 2012

"Tá quantox?!"



Ouvi o barulhinho do facebook me chamar... Puxa! Há quanto tempo! sim, faço lembrancinhas... de urso? sim, tenho um modelo no álbum tal... tempinho para conversar com a esposa... Ok! Venham aqui em casa para vocês poderem "ver" na mão, escolher cores de tecido, de fitas, essas coisas. Detalhes acertados, metade adiantada... tudo ótimo. Primeiro modelo postado para eu ter certeza de que era aquilo. Era quase... precisava de um detalhezinho... Não sabia que um detalhezinho poderia durar uma manhã nem que ursinhos poderiam ser assunto por uma semana toda.



 
 
 Nada disso é reclamação! Por favor, antes que alguém entenda mal, para mim, é prazeroso demais porque amo fazer minhas coisas de pano. Além disso, fiz com muito carinho por ser para uma fofura especial.

É que me serviu para eu pensar no futuro... a repetição de uma ideia cansa um pouco quando queremos criar outras coisas, o tempo de um detalhe não é detalhe, o preço não pode deixar de ter o valor agregado, prazo tem data final, já nossos filhos têm prazo constante, e, por fim, quem determina tudo isso sou eu.

 Já havia aprendido que podemos cobrar o dobro do material gasto, um valor correspondente às horas trabalhadas, ver o mesmo produto ou semelhante e não cobrar muito mais nem muito menos, e assim vai. O que descobri, que ainda não havia lido, é que no preço alguns valores não podem ser incluídos (como o relacionado ao carinho que se tem por alguém, ao dó, à tristeza, à felicidade) e outros devem (como a valorização do seu trabalho mesmo). Outra coisa que tive que entender ainda foi sobre valor que se deve dar ao artesanato, em geral, o que eu faço e também o que minhas amigas fazem ou mesmo a "concorrência". Se uma pessoa desvalorizar seu trabalho, pode criar um desequilíbrio no esquema geral, assim como um preço muito alto pode até manter um estoque cheio.



E isso tudo me remeteu a Ferreira Gullar e seu poema:


Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão


O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.


 Como não cabe no poema
o operário
que esmerila
seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”


Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira


(In: Toda poesia.)

Então, o preço de boneco não deve caber no poema também. (risos) E era isso por hoje. Beijinhos.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Quem é flor?



O trabalho da gente nunca aparece sozinho... pelo menos aqui funciona assim. Calmaria e tempestade. Um monte de ideias e uma secura de disposição, um monte de roupas para passar e vontade de comprar outras... (matemática estranha que juramos ter roupa demais para passar  e nenhuma para vestir.), tudo para fazer e no final do dia não se fez nada. Dia difícil... novo dia.

E o que fazer para viver inflamada? com sede de vida, de querer crescer, de fazer mais por alguém? de riscar-cortar-costurar?  Viver com sede de ser feliz? 
Para se viver inflamado, é preciso estar no fogo... tem que sair fumaça... 

Adoro a imagem de Drummond, que mesmo sendo da época da repressao, permite enxergarmos uma flor.
 
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

(do poema A Flor e a Náusea)

Essa flor sou eu e você; é o brasileiro que toma seu café preto ou nem toma; é a mãe e o filho, o pai e o avô; são as Bonequeiras sem fronteiras, com suas bonecas de amor; é a turma que acorda cedo no domingo para fazer almoço e doar; é a enfermeira que oferece carinho junto com o remédio amargo; é quem rompe o asfalto.

Estou meio pensativa hoje... 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Inspiração

Os primeiros momentos são de superação. Superei a impossibilidade, superei meu desconhecimento sobre bebês, depois sobre fazer comida, sobre ser mãe. Não fazia a menor ideia da "dor e da delícia" que iria viver, que vivo. Tornei-me a Dona Cotinha, uma personagem no estilo anos 20, que cuidava da casa, do marido, do filho e tentava ficar "ajeitadinha". Aos poucos a realidade foi tomando conta e percebi que ainda existiam uns litros de criatividade, interesses, curiosidade e necessidade de produzir mais, enfim eu ainda existia debaixo daquela mãe toda que me esforçava em ser.
Nessa busca de mim, entendi que minha área não envolvia a mesa de um escritório (tentei trabalhar com o marido). Precisava me reinventar (ideia clixezona, mas era isso mesmo). Uma nova vida nova tomava conta de tudo. Eu estava ali dentro.
Resolvi sentar à máquina. Fazer umas "coisinhas". Fiz. Fui procurar outras "coisinhas" para fazer... encontrei um monte de sites, de blogues, de pessoas no facebook. Alguns me chamaram a atenção, mas houve quem me inspirasse mesmo. Fiquei fã. Vi que fazer o que se gosta é parte de ser quem se é. Foi interessante ver que existia uma pessoa fazia as "coisinhas" de que gosto. Uma pessoa mesmo, que tinha família, marido, filhas, cachorro (agora tem gato) e até uma parceira que pelo jeito é seu braço direito dentro de casa. E essa pessoa é grande!!! A primeira vez que percebi seu tamanho foi uma surpresa. Engraçado os esteriótipos que temos. Não via ninguém GG (ela é bem alta para mim que não cheguei a 1,60) fazendo coisinhas miúdas e megafofas... ainda bem que agora penso diferente. Essa "alemoa" mostrou que é possível realizar sonhos. Transformou um sobrado caidão num lugar acolhedor. Por enquanto, conheço pelas fotos. Quando entro lá (em meus pensamentos) é um lugar de temperatura agradável, cheirinho gostoso (posso jurar que ou tem cheirinho de bolo ou de flor) e é muito colorido. Aposto que quem entra lá bota a mão em tudo. Eu tenho vontade de tocar nas almofadas, nos enfeites, nos quadrinhos. Dá vontade de sentar e bater papo. Até chimarrão (sou mais da água de coco, vivo na praia) tenho vontade de tomar!!
Então resolvi acompanhá-la através da net. E a Lu, é ... ela deixa a gente chamá-la de Lu mesmo, viria para minha cidade para um Patch Encontro, uma aulona em que se aprende coisinhas bem legais. Ansiosa, já me inscrevi. E aguardava o momento.
Foi então que vi que o tamanho dela era G por dentro. Aquele clima acolhedor nos arrebatou. Queríamos bater foto com tudo que lembrasse ela. Conversar. Sem perder os detalhes da aula, claro.
Sobre fotos: ela também gosta de registrar tudo. E nos homenageava fotografando nossas coisinhas: a necessaire de uma, a bolsa que a outra fez, a tilda criada na aula, um detalhe aqui outro ali. Juntou todos esses retalhinhos e criou um vídeo. Faz isso em todo Patch Encontro e nós podemos vivenciar de novo aqueles momentos, mantendo nossa chama acesa.
O tempo passa, cada um segue sua vida, seja viajando pelo Brasil todo ensinando e fazendo crafts, como a Lu, ou cuidando da casa, marido, filhos, como eu; seja fazendo os crafts como eu, ou passando bons momentos com a família, como a Lu. Enfim, o tempo passou.
Na minha empolgação, desatei a postar fotos do que eu era capaz. Dos meus crafts, das minhas "coisinhas". E não é que minhas coisinhas fizeram um sucessozinho?! Recebi encomendas, depois mais umas, outras. E uma amiga, após insistir longamente, me convenceu... estava na hora de eu entrar nesse mar. Minha amiga Zeizinha faz pijamas lindos, saias de rodar e montes de fofurices. Decidi: era a hora.
Quis ter uma marca, um nome, uma logo, alguma coisa que me identificasse, que transparecesse um pouco de mim. Como o Augustinho de "A Grande Família", ficava entre um nome e outro, indo e vindo sem decidir, apesar de já ter sido feita minha escolha. Eu estava insegura. Eu precisava de um respaldo pra a minha decisão. E pedi ajuda. Pedi mesmo. Falei com algumas pessoas pelas quais tenho grande respeito e consideração. Minha amiga mandou um Day Doll, claro..., minha profe de Literatura Tânia, alguns amigos deram sua opinião. E não era apenas gosto. Alguns fazia relações com as sete notas musicais e assim ía. Até que vi aquele botãozinho da Lu, no face, verdinho. Bateu a coceira. Perguntei para ela. (Me senti muito folgada nessa hora, até fiquei envergonhada mesmo). E não é que ela mandou um "Day Doll, sem dúvida"?!!! Ela era grande mesmo!... afinal não somos amigas de infância e ela doou seu tempinho, seu pensamento só para mim! para me ajudar também. Fiquei aliviada, a escolha estava certa.
Fui atrás de fazer a logo. Fiz. Gostei. Etiquetas. Fiz. Cartão de vistitas. Fiz. Adesivo (adoro!). Fiz. Tag. Fiz. Sacolinhas crafts. Comprei. Fita que combinasse com a logo. OK!
Começaram as entregas. A cada sacolinha me sinto uma mulher de sucesso... rsrsrs Estou montando meu atelier virtual, este blog, lojinha no Elo7, mas um passo de cada vez. Quando puder, arrumo um sobradinho... Aos poucos a inspiração se torna mesmo transpiração. Ainda sou uma pessoa com família, marido, filhos, cachorro, casa para cuidar, muito para aprender, mas agora tenho meus projetos, meu interesse em criar brinquedos pedagógicos de tecido (minha veia de professora não me deixa rsrsrs), enfim, faço minhas "coisinhas" ... e continuo me inspirando na Lu Gastal e suas "coisas" GG.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O começo




Começar pode ser um tumulto... sair da zona de conforto dá trabalho... mas às vezes tudo acontece aos poucos, e quando vemos nossa vida é outra.

Desde criança fui professora. Auditório lotado e muita questão sobre vestibular era o meu forte. Adoraaaaava aquele agito, aquela tensão, dúvidas, respostas, correria, saber muita coisa em pouco tempo, e até por pouco tempo.

De repente, era outro dia, outro mês, outro ano, e eu assistia à Sessão da tarde, tranquila, sem fazer muitas interligações megarreflexivas, só saboreava Chocolate com pimenta (novelinha que nunca pude acompanhar no meio de tanta leitura e provas e redações e pensamentos). Eu sabia quem eram as personagens, o enredo, tudo. Então percebi que a vida era outra mesmo. E gostei dessa vida.

Na verdade, esse de repente levou nove meses, depois mais uns três, para acontecer por completo. Começava minha nova vida...

... a vida de mãe, que tanto desejei.